
Representantes das principais Sociedades Médicas do país que atuam no cuidado do paciente com Diabetes Tipo 2 (DT2) reuniram-se na última sexta-feira (22), em São Paulo, para discutir o cenário da DT2 e os novos tratamentos - medicamentosos, com as novas drogas que surgem no mercado e cirúrgicos, por meio da cirurgia metabólica que apresenta evidências científicas de estudos recentes realizados no mundo.
Segundo dados apresentados por médicos e cirurgiões, devido à escassez de sintomas na fase inicial da Diabetes, cerca de 50% dos pacientes desconhecem o problema, e pelo menos a metade dos pacientes que estão em tratamento não atingem um controle adequado dos seus níveis de açúcar no sangue.
O Workshop "Novas Fronteiras no Tratamento de Diabetes Tipo 2", foi promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e contou com a presença de representantes de 12 sociedades médicas.
Participaram das discussões as Sociedades Brasileiras de Diabetes, Cardiologia, Nefrologia, Oftalmologia, Endocrinologia, Cirurgia Vascular, Hepatologia, e Nutrologia. Compareceram também as entidades dos cirurgiões Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva (Sobracil), Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e Colegio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD).
De acordo com o presidente da SBCBM, Marcos Leão Vilas Boas, o objetivo do Workshop foi promover a troca de experiências entre as especialidades que atuam no tratamento clínico e suas complicações, juntamente com os médicos que atuam no tratamento cirúrgico do paciente.
A Cirurgia Metabólica, regulamentadas pelo CFM desde 2017, passou a ser indicada como opção no tratamento diabetes mellitus Tipo 2 (DM2) para pacientes que possuem Índice de Massa Corporal entre 30 Kg/m2 a 35 Kg/m2.
"O evento foi uma oportunidade para compartilharmos com as outras especialidades os resultados de estudos científicos de grande impacto que têm demonstrado não apenas o controle na doença, mas uma acentuada redução nas taxas de complicações sobre a visão (retinopatia), rins (nefropatia) e nervos periféricos (neuropatia), bem como nas complicações macrovasculares que se traduzem em derrame e infarto do miocárdio. O resultado maior disso é redução na mortalidade e melhora da qualidade de vida", afirmou Marcos Leão.
A DIABETES EM DIFERENTES PATOLOGIAS
Cardiologia - O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Oscar Dutra, disse que a avaliação dos cardiologistas é preocupante, já que devido a sua prevalência há a perspectiva de que o Brasil tenha, em um curto espaço de tempo, cerca de 25% da população adulta com diabetes do tipo 2.
"E esse é um fator de risco desencadeador de eventos cardiovasculares como acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio e amputações", elencou. O cardiologista disse que existem 387 milhões de diabéticos no mundo e este número deve chegar a 592 milhões em 2035.
"Em 2014 a diabetes causou a morte de 4,9 milhões de pessoas no mundo, sendo a doença cardiovascular a principal causa da mortalidade. É importante lembrar que a Diabetes dobra o risco de mortalidade", afirmou o presidente da SBC.
Oftalmologia - A presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), Edna Almodin, destacou os dados sobre cegueira não traumática e perda de visão irreversível. "A primeira causa de cegueira não traumática é o diabetes e a segunda causa de perda de visão irreversível é o Diabetes.
Então é de importância fundamental estudo dessa patologia para oftalmologia. Considerando que a nossa relação com o mundo, 80% depende da nossa visão, é fundamental o estudo do diabetes e suas consequências", afirmou Edna.
Hepatologia - O Presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Paulo Bittencourt, contou que existe uma forte associação entre o diabetes e a hepatite C - doença que acomete cerca de 1 milhão de brasileiros, de evolução assintomática. "O risco de um paciente diabético ter hepatite C é de 4 a 10%. Muito diferente dos riscos da população brasileira em geral, cuja prevalência é de 0,7 a 1%", alertou Paulo.
Outro aspecto importante, segundo ele, é a associação do diabetes com a doença hepática mais emergente, que é a doença hepática gordurosa não alcoólica, conhecida como esteatose.
A gordura no fígado é observada em exames de rotina, como o uso do ultrassom e, em alguns pacientes, pode evoluir para a cirrose hepática no longo prazo.
"É uma doença que tem tratamento e está fortemente associada não só ao diabetes, mas a outros fatores como, por exemplo obesidade, resistência à insulina, glicemia alterada e a síndrome metabólica", ressaltou.
O tratamento para doença hepática gordurosa não alcoólica prevê a perda de peso atividade física e dieta.
"Embora pareça simples, os resultados comprovam que a maior parte dos pacientes não consegue manter hábitos saudáveis a longo prazo. Por outro lado, aqueles submetidos a cirurgia metabólica, para controle do diabetes ou da obesidade mórbida, apresentam comprovadamente melhora da doença hepática gordurosa não alcoólica e até mesmo redução da fibrose hepática, que é a essência da cirrose", afirma.
Cirurgia Vascular - O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Roberto Sacilotto, apresentou dados sobre as taxas de amputações ocasionados por problemas circulatórios e descontrole do diabetes.
"Foi um encontro muito interessante do ponto de vista de atualização geral do diabetes. Sabemos que melhorando a glicemia, vamos reduzir as chances de problemas vasculares periféricos e as taxas de amputações", reforçou .
Por: DINO